O FUTURO A PARTIR DAS MÃOS QUE SABEM FAZER
Uma leitura de tendências para o artesanato contemporâneo em Portugal
Num tempo em que o mundo, pós pandemia, ainda procura reencontrar os seus fundamentos, o setor do artesanato em Portugal afirma-se como território fértil de inovação, autenticidade e visão de futuro.
Combinando tradição, inovação e propósito, os novos criadores estão a reinventar o setor com propostas que respondem às exigências do consumidor contemporâneo.
Nesta exposição, o CEARTE apresenta quatro grandes tendências que revelam como o saber-fazer artesanal está a conquistar novos mercados, novas linguagens e novas formas de pensar o design, a produção e o consumo.
Estas tendências não são apenas linhas estéticas ou modas passageiras — são sinais profundos de transformação nos modos de produzir, criar e consumir. Refletem inquietações e esperanças de uma nova geração de artesãos e artesãs que, com raízes no saber-fazer tradicional, estão a desenhar novas formas de se relacionarem com o mundo, com os materiais e com o mercado.
Não pretendemos com esta mostra assumir um modelo para a produção artesanal, nem sequer marcar um caminho único para o setor, queremos isso sim, mostrar com estes exemplos que existem vários caminhos, várias alternativas, várias soluções para os desafios que o setor enfrenta.
NOVAS RAÍZES apresenta a força de um artesanato que olha para trás com respeito e para a frente com criatividade. Uma tendência onde os saberes antigos são atualizados, reinterpretados e colocados ao serviço das necessidades e gostos contemporâneos, sem nunca perderem a sua alma.
- Através de matérias-primas, técnicas tradicionais e um novo olhar sobre o mercado, trazendo para a contemporaneidade novas formas e apresentações
- Reflexo de um desejo de relembrar as nossas origens culturais e identitárias, mas à luz das novas necessidades do lar e pessoais.
- Reinterpretação/reinvenção da tradição com o objetivo de a integrar na contemporaneidade do nosso dia a dia
- Tradição com atitude. Os saberes antigos reinventam-se em peças atuais, cheias de identidade, pensadas para um público moderno que valoriza autenticidade e história.
TECNOCRAFT revela como a tecnologia está a entrar no mundo artesanal como aliada e não como ameaça. Impressão 3D, corte a laser ou software de modelação são agora ferramentas ao serviço da expressão criativa e da eficiência produtiva, sem comprometer o gesto e a técnica que definem o saber fazer artesanal.
- Desafio à interpretação tradicional do que é ou não artesanato
- Mistura do saber fazer artesanal e o conhecimento das matérias-primas, com o recurso a ferramentas tecnológicas modernas e formas digitais de produção, está a provocar uma interconexão de especialidades, levando à transformação do saber fazer, o que poderá provocar uma renovação das disciplinas de produção artesanal
- A cultura hacker como atitude de explorar, manipular, questionar fronteiras e normas estabelecidas
- Utilização da tecnologia de maneira criativa para inovar métodos de produção sem que haja perda de valor nem de significado.
SUSTENTABILIDADE afirma-se como urgência ética e estética. Fala de ecologia, circularidade e upcycling, mas também de bem-estar — físico, emocional e comunitário. Uma abordagem que valoriza materiais sustentáveis, processos conscientes e um equilíbrio entre a produção e os ritmos da vida.
- Matérias primas, técnicas e produtos artesanais tradicionais ganham destaque e, por vezes, uma nova vida, na procura de soluções ecologicamente mais sustentáveis.
- Forte consciência e preocupação com a pegada ecológica das matérias-primas e processos de produção utilizados.
- Reaproveitamento de produtos, industriais ou artesanais, como nova matéria-prima para a criação de novas peças.
- Recurso a matérias-primas sustentáveis e/ou de produção local e biodegradáveis.
- Práticas ecológicas, bem-estar e consciência ambiental integrados no processo criativo.
- O artesanato assume um papel ativo na construção de um futuro mais equilibrado, mais do que uma tendência, um compromisso. Materiais ecológicos, processos conscientes e foco no bem-estar.
PROVOCAÇÕES convida a sair da zona de conforto. É a tendência da ousadia, da experimentação, da crítica e da inovação radical. Aqui, tradição e vanguarda convivem em peças que provocam, questionam e celebram a excelência do saber fazer com uma nova atitude.
- Técnicas e matérias-primas tradicionais, mas que por serem abordadas de outra forma, rompem com as tradições.
- Reinvenção de formas, usos e estéticas, mantendo a produção através de técnicas ancestrais.
- Produtos identificativos de uma atitude pessoal.
- Utilização de materiais inusitados que provocam admiração, mas onde a qualidade irrepreensível de execução é o mote para uma peça de excelência.
- Transposição de elementos de outras áreas para a criação de produtos de luxo.
- Afirmação de uma identidade que revisita as origens.
Estas quatro tendências podem funcionar como bússolas para criadores, marcas, formadores e instituições ligadas à promoção e desenvolvimento do artesanato em Portugal.
São sinais claros de que o artesanato não é apenas tradição — é inovação, cultura, mercado, sustentabilidade e acima de tudo, futuro.
Mais do que apontar caminhos, queremos com esta exposição inspirar novas perguntas: que artesanato queremos para o futuro? Que lugar queremos que ele ocupe na nossa cultura, economia e identidade?
Fique a perceber um pouco mais do que são tendências de moda no artesanato, para que servem e o trabalho que o CEARTE desenvolve neste campo, acompanhando as nossas informações atualizadas AQUI